Numa cidade tinha dois moços que eram muito amigos e não se largavam nunca, pra cima e pra baixo nos seus passeios.
Tinham a fama de serem muito brincalhões e o costume deles era fazer graças e malvadezas em velórios, dando sempre um jeito de assustar alguém. Tinham gosto nesse negócio e chegavam até a faltar com o respeito com algumas famílias, coisa que já tinha dado algumas dores de cabeça pra eles, mas não se endireitavam de nenhum jeito.
Era só chegar de noite, paravam na praça e já perguntavam pro povo que estava ali onde é que tinha morrido gente. E já iam pra lá, já imaginando a graça ou susto que iam fazer no velório.
Uma ocasião tinha morrido um frade do convento lá daquela cidade e eles logo já deram a cara no velório do frade. Mas a turma dos "irmãos" ali já sabia da fama deles e ficaram de olho aberto pra ver o que é que eles iam inventar daquela vez.
Diz que um dos frades falou pra outro:
- Nós precisamos dar uma lição nesses dois.
E cochicharam num canto, lá numa conversa deles.
Lá pelas tantas, bem tarde da noite, estavam no velório só esses dois frades que tinham combinado um negócio, e os dois moços.
Um dos frades falou pra eles:
- Será que vocês não queriam ir buscar uma cuia de água lá no poço pra nós?
Os dois foram e no caminho já iam pensando que na volta é que eles iam fazer a brincadeira deles com os dois frades.
Mas os dois frades tiraram o defunto do caixão e puseram ele sentado numa cadeira e um deles entrou no caixão, fingindo que era o defunto. E o outro, então se escondeu.
Os moços chegaram com a cuia!
- Olhe. Tá aqui a água.
Mas o defunto, sentado na cadeira ali, ficou bem quieto.
E os moços falam outra vez pra eles da água.
Daí, o que estava no caixão se levanta e fala:
- A água é aqui pra mim, moços.
E o outro, escondido ali atrás da porta, vai e desliga depressa a luz e dá um grito alto.
Sei dizer que foi um berreiro e uma correria que não te conto nada!
E dizem que os moços, depois dessa, largaram mão daquele costume deles de assustar os outros.
(José Maria Saes Rosa)
Quem sou eu
- Con Lopes
- A primeira vez que ouvi uma história, ganhei o presente mais precioso da minha vida e nesse decurso de ler, ouvir e contar histórias tive o primeiro encontro com meu eu, descobri então, o fascinante universo que há em todos nós, um universo de imensurável grandeza que de forma simples e encantadora tem me feito avaliar a cada momento, minha pequenez nesta divina arte de viver! O objetivo primacial do meu trabalho é carinhosamente contagiar o público com esta arte milenar; a intenção também é resgatar a figura do contador de histórias tradicional e mostrar a importância da narração de Histórias.
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